quinta-feira, 30 de julho de 2015

Um olhar sobre os animais de estimação não-convencionais

Domesticação de animais é uma prática milenar, resultado da íntima relação entre o ser humano e espécies que, de alguma maneira, poderiam lhe trazer algum benefício para sua sobrevivência. Dentre muitos exemplos, podemos citar os cães, que o ajudava na proteção e na caça, e os cavalos, que o auxiliava em transportes e em guerras. 
Atualmente, possuir um animal de estimação pode representar apenas mais uma alternativa emocional para quem não pode (ou não quer) ter filhos. Muitas vezes há uma exclusiva motivação terapêutica, já que sabemos que o contato com os animais tem a potencialidade de nos proporcionar um intenso bem-estar. 

Animais silvestres e exóticos...
Em especial na Europa e na América do Norte, a criação doméstica de animais silvestres e exóticos – bem como a sua reprodução em cativeiro e a sua comercialização – são permitidas por lei, havendo, portanto, um relevante nicho de mercado tanto para os criadores como para as ciências relacionadas (como a biologia e a medicina veterinária). 

No Brasil, a burocracia legal ainda impede o desenvolvimento mais ativo deste segmento, de qualquer forma, animais isentos de documento de origem são cada vez mais adotados pelos lares brasileiros. São exemplos: calopsitas, periquitos australianos, chinchilas, porquinhos da índia, hamsters e coelhos. 

Importante destacar que os aspirantes à tutores de animais de estimação não-convencionais devem procurar um veterinário especializado neste segmento, visando conhecer as diferentes espécies e as suas respectivas particularidades para, posteriormente, refletir com muita frieza se terá condições e disposição suficientes para manter a criação em boas condições. 

À título de exemplo, animais carnívoros como serpentes, corujas e gaviões necessitam ingerir, regularmente, presas inteiras como camundongos ou ratos criados em biotério. Este ato, por si só, poderia ser um impeditivo às capacidades técnicas, operacionais, financeiras e psicológicas de potenciais candidatos à tutores desses tipos de animais. 

Em um âmbito digamos...menos selvagem, outro exemplo interessante é o de muitas pessoas presentearem os seus filhos com coelhos domésticos sem conhecer, na profundidade necessária, as exigências, o perfil e o comportamento desta espécie (muitos não toleram colo, dão coices e se atiram no chão para escapar da contenção das pessoas...) e o seu provável impacto na relação com a criança. 

Além disso, a maioria dos criadores orienta erroneamente o manejo alimentar desses animais que são, essencialmente, herbívoros e necessitam de um alto teor de fibras. Todo cuidado é pouco! 

Em resumo, nos dias de hoje, é plenamente possível comprar ou adotar com segurança animais silvestres ou exóticos desde que, como no caso dos animais de estimação convencionais, este processo venha acompanhado de muita pesquisa, orientação, disposição, auto-conhecimento e cumplicidade da família, garantindo uma  singular experiência para todos os envolvidos e evitando maus tratos, abandono e sofrimento do animal. 

Dra. Erika Fruhvald
Médica Veterinária Especializada em Animais Exóticos e Silvestres

CRMV-SP 27.116